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Dólar fraco, América forte?

O Morgan Stanley tem uma visão baixista sobre o dólar dos EUA. O dólar teve o pior primeiro semestre do ano desde 1973 e o índice do dólar caiu cerca de 10% até agora neste ano. Para o Morgan Stanley, o dólar deve cair mais 10% até o final de 2026.

Curiosamente, nas temporadas de resultados, quando o dólar está valorizado, é comum que executivos citem os efeitos cambiais como um fator negativo para os lucros, especialmente entre multinacionais. Isso porque receitas geradas no exterior perdem valor ao serem convertidas para dólares. No entanto, quando o movimento é o inverso — como ocorre agora, com o dólar em queda — os efeitos positivos raramente são destacados com a mesma ênfase. Esse viés na comunicação revela como o impacto cambial positivo é subestimado pelo mercado, criando assimetria na precificação dos ativos.

A desvalorização do dólar atua como um multiplicador silencioso para os lucros das empresas americanas com forte presença global. A conversão de receitas em euro, iene ou yuan para um dólar mais fraco impulsiona os resultados operacionais, especialmente para setores com maior dependência de exportações ou operações internacionais. É o chamado “translation effect”, que beneficia empresas com receitas em moedas estrangeiras, mas custos majoritariamente em dólar.

Entre os principais beneficiados estão companhias dos setores de bens de capital, tecnologia industrial, software e semicondutores — segmentos onde a exposição a mercados externos é elevada e a elasticidade de margem à taxa de câmbio é mais sensível. A análise por índice também confirma esse padrão: enquanto apenas 22% das receitas do Russell 2000 Small Caps vêm do exterior, no S&P 500 essa parcela sobe para cerca de 40%. Grandes companhias globais, portanto, têm mais a ganhar nesse ambiente.

Além do impulso direto nos lucros, há outro vetor crítico: as revisões de resultados. À medida que o dólar enfraquece, analistas começam a incorporar ganhos adicionais nas projeções, o que tende a gerar revisões positivas nas estimativas de lucro por ação (EPS). Historicamente, essas revisões estão entre os principais catalisadores de performance de ações, sobretudo em ciclos de reprecificação macroeconômica.

Portanto, em um cenário onde o dólar segue em tendência de baixa, o mercado deve ampliar seu foco sobre empresas expostas ao exterior, com capacidade de alavancar receitas em múltiplas moedas. O investidor atento deve observar não apenas o macro — como taxas de juros ou decisões do Fed —, mas também como esse novo regime cambial está reconfigurando os motores de crescimento das companhias listadas.

A mensagem é clara: o dólar fraco não é apenas um tema de política monetária. É uma mudança estrutural com efeitos duradouros sobre balanços, valuations e liderança setorial na bolsa americana.

Contribuidor

Escrito por Jean Botelho

Cirurgião de Formação.
Amante de mercados em geral, com foco no mercado Americano.

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