INDICADORES E DIVERGÊNCIAS
Atendendo a alguns pedidos, neste artigo vou abordar de forma objetiva as famosas “divergências” que rotineiramente são comentadas nas análises técnicas feitas em diversos ativos do nosso mercado, no intuito de esclarecer para todos o que elas de fato significam.
Para tanto, preliminarmente, irei abordar os dois principais indicadores que utilizo para identificar eventuais divergências: OBV e IFR.
Neste artigo, vamos conversar sobre o IFR!
1 – Momentum:
Antes de abordarmos o Índice de Força Relativo (IFR) propriamente dito, é fundamental, na minha concepção, ter claro na mente o conceito de momentum.
Assim, pois o IFR é um indicador clássico construído tendo como objeto de estudo justamente o momentum de uma tendência.
Portanto, neste instante, a principal pergunta a ser respondida é: O que é momentum?
Basicamente, momentum vai medir a força/fraqueza de uma tendência de preços, ou seja, a intensidade de uma tendência. Ele será capaz de aferir a taxa com que determinado preço sobe ou cai.
Martin J. Pring, brilhantemente, utiliza no seu livro “Análise Técnica Explicada”, dois exemplos práticos para explicar o conceito de momentum:
-Momentum na alta: “quando uma bola é lançada no ar, começa sua trajetória em um ritmo muito rápido; ou seja, possui um forte momentum. A velocidade com que a bola sobe, gradualmente diminui, até que finalmente ocorre uma interrupção temporária. A força da gravidade, em seguida, faz com que a sua direção seja revertida. O processo de desaceleração, conhecido como perda de momentum na subida, é um fenômeno que também é sofrido nos mercados financeiros. A trajetória da bola pode ser equiparada a um preço de mercado. A taxa de avanço do preço começa a desacelerar consideravelmente antes que o último topo no preço seja alcançado.
Por outro lado, se a bola for lançada dentro de uma sala e bater no teto, enquanto o seu momentum continua subindo, a bola e o momentum revertem simultaneamente.”
– Momentum na baixa: “ O conceito de momentum descendente pode ser mais bem entendido quando comparado com um carro que é empurrado através de um topo de uma colina. O carro começa a rolar ladeira abaixo e, na medida em que o declínio vai aumentando, o carro aumenta a sua aceleração; no fundo, ele atinge a sua velocidade máxima. Apesar de sua velocidade, então começar a diminuir, o carro continua sua trajetória, mas finalmente começa a parar. Os preços de mercado agem de forma semelhante: A taxa de declínio (ou perda de momentum), muitas vezes, desacelera antes da mínima final. Isso nem sempre é o caso, entretanto, uma vez que o momentum e o preço (como nos topos) revertem simultaneamente, quando os preços encontram um importante nível de suporte (resistência).
Basicamente, com esses exemplos, Matin Pring clarifica o conceito de momentum e, adicionalmente, já introduz a ideia importante de que, muitas vezes, o momentum irá sinalizar antecipadamente (antes do preço – as famosas divergências) possíveis sinais de final/reversão da tendência (são os casos em negrito nos exemplos acima).
2 – Índice de Força Relativa (IFR):
a.1) Conceitos e características:
O IFR é um indicador da família dos osciladores e que tem como objeto de estudo o momentum, ou seja, a eventual força/fraqueza da tendência.
Ele foi desenvolvido por Wells Wilder e consegue medir a força interna da tendência de uma ação (ou ativo) contra si mesmo (diferente de outros indicadores que medem a força da ação/ativo contra outra ação/ativo ou contra o mercado em geral).
Como um indicador da família dos osciladores, o IFR vai oscilar entre 2 faixas constantes de 0 e 100, além de possuir as regiões de sobrecompra e sobrevenda, tradicionalmente localizadas nos níveis de 70 (sobrecompra) e 30 (sobrevenda).
Importante ressaltar alguns aspectos:
– em mercados de tendência de alta muito forte, o IFR pode permanecer por um longo período na região de sobrecompra;
– em mercados de tendência de baixa muito forte, o IFR pode permanecer por um longo período na região de sobrevenda.
a.2) Utilização clássica do IFR:
Na forma clássica, o IFR é utilizado na seguinte configuração:
– período: 14 dias;
-Sobrecompra: a partir no nível de 70 para cima;
-Sobrevenda: a partir do nível de 30 para baixo.
Com essa configuração, a ideia clássica consiste em:
CENÁRIO TÉCNICO: O QUE FAZER?
IFR SOBRECOMPRADO (DO NÍVEL DE 70 PARA CIMA) E VIRANDO PARA BAIXO VENDA DO ATIVO
IFR SOBREVENDIDO (DO NÍVEL DE 30 PARA BAIXO) E VIRANDO PARA CIMA COMPRA DO ATIVO
No entanto, pessoalmente acho que essa forma de utilização clássica do IFR é péssima, pobre, equivocada e invariavelmente vai levar o trader/investidor a incorrer muito mais em perdas/erros do que em ganhos/acertos, principalmente por estar negligenciando o básico: não se deve operar indicador (seja ele qual for!)!! O que se opera é o preço!!!
Além disso, a simples virada do IFR para baixo após atingir uma região de sobrecompra muitas vezes vai significar apenas uma exaustão temporária da compra (e não um sinal de venda!) para logo a tendência ser retomada, assim como a virada do IFR para cima após atingir uma região de sobrevenda muitas vezes vai significar apenas uma exaustão temporária da venda (e não um sinal de compra!) para logo a tendência ser retomada.
a.3) Como eu utilizo o IFR:
Sabendo que o mercado financeiro é uma eterna batalha entre compradores/vendedores e que o IFR é um indicador capaz de medir a força de uma tendência (momentum), gosto de interpretar o IFR da seguinte forma:
CENÁRIO TÉCNICO: O QUE SIGNIFICA?
IFR > 50 COMPRADORES MAIS FORTES
IFR = 50 EQUILIBRIO DE FORÇAS ENTRE COMPRADORES E VENDEDORES
IFR < 50 VENDEDORES MAIS FORTES
Assim sendo, via de regra, num mercado em tendencia de alta e com IFR acima do nível de 50, vou buscar estar ao lado da força dominante, ou seja, ao lado dos compradores.
Da mesma forma, via de regra, num mercado em tendência de baixa e com IFR abaixo do nível de 50, vou buscar estar ao lado da força dominante, ou seja, ao lado dos vendedores.
Além disso, em mercados em tendência, é mais difícil vermos janelas em que, por exemplo, em uma tendência de alta iremos ver o IFR em níveis de sobrevenda; assim como em mercados em tendência de baixa iremos ver o IFR em níveis de sobrecompra. No entanto, as vezes essas situações acontecem e esses momentos costumam ser as melhores janelas para entrarmos nos movimentos a favor da tendência!!
Quanto a configuração, utilizo dos dados clássicos:
– período: 14 dias;
-Sobrecompra: a partir no nível de 70 para cima;
-Sobrevenda: a partir do nível de 30 para baixo.
Acrescento a esse dados, uma linha no nível de 50 (região de equilíbrio de forças do mercado) e uma média móvel de 9 períodos.

Para o artigo não ficar muito longo, vou encerrar essa primeira parte aqui já com os conceitos de momentum e também do próprio IFR já devidamente explicados.
Na parte II, vou abordar, através de exemplos práticos, uma segunda forma de utilização do IFR e que, particularmente, gosto muito: as divergências!!!





