INDICADORES E DIVERGÊNCIAS – PARTE I – OBV

     Atendendo a alguns pedidos, neste artigo vou abordar de forma objetiva as famosas “divergências” que rotineiramente são comentadas nas análises técnicas feitas em diversos ativos do nosso mercado, no intuito de esclarecer para todos o que elas de fato significam.

     Para tanto, preliminarmente, irei abordar os dois principais indicadores que utilizo para identificar eventuais divergências: OBV e IFR.

     Neste primeiro artigo vamos conversar sobre o OBV!

1 – Indicadores:

• On Balance Volume (OBV):

 a.1) Conceitos e características:

     O OBV é um indicador volumétrico desenvolvido por Joe Granville.

     Basicamente ele funciona da seguinte forma:

– Dias de alta: volume do dia é acrescido ao OBV
– Dias de baixa: volume do dia é subtraído do OBV
– Dias de variação nula (empate): volume do dia é descartado (não é acrescido e nem subtraído do OBV). 

•      Através desta dinâmica, o gráfico do OBV vai sendo construído através de uma linha e, com isso, é possível comparar seu movimento com o movimento do preço do ativo a que ele se refere.

       É um excelente indicador para entender, por exemplo, em mercados laterais (consolidações), se estamos vendo uma acumulação (fase prévia a um movimento direcional para cima) ou uma distribuição (fase prévia a um movimento direcional para baixo).

       Além disso, é o indicador que utilizo para aferir se o famoso princípio da Teoria de Dow está sendo respeitado: “O volume deve confirmar a tendência.”

       OBS: Apesar do OBV poder ser utilizado para qualquer tempo gráfico, só entendo haver sentido técnico em seu uso a partir do tempo gráfico diário!! (abaixo do time frame diário – gráficos intraday –  ele será extremamente contaminado por ruídos, gerando muitos sinais técnicos falsos).

 a.2) Divergências entre preço e OBV:

a.2.1) Advanced Break UP: 

     No exemplo acima de PETR4, temos um advanced break up no OBV , ou seja, um rompimento antecipado de topo feito pelo OBV.

     Percebam que a PETR4 vem de uma pernada de baixa, faz um fundo, sobe deixando um topo (marcado pela letra “A” em verde), volta a cair deixando um fundo mais alto e retoma a subida.

     Nesta retomada da subida, o OBV rompe antecipadamente (em relação ao preço) o topo identificado pela letra “A” em verde, ou seja, ele faz o que chamamos de “advanced breau up”, ou seja, um rompimento antecipado de topo, sinalizando que o preço deve, num futuro próximo, fazer o mesmo movimento (ou seja, romper o topo marcado pela letra “A” em verde).

a.2.2) Advanced Break Down: 

No exemplo acima de PSSA3, temos dois advanced break down no OBV , ou seja, dois rompimentos antecipados de fundos feito pelo OBV.

     Percebam que a PSSA3, após uma forte pernada de subida, vinha dentro de uma lateralidade (ou topo duplo armado).

     Nesta lateralidade, ela fez um fundo marcado pela letra “A” em amarelo, retoma a subida para teste de seu topo (onde falha na renovação de máxima e deixa o topo duplo armado) e retoma a descida para novo teste do fundo marcado pela letra “A” em amarelo. 

•      Neste novo teste de fundo, percebam que o OBV faz o advanced break down, ou seja, o rompimento antecipado do fundo marcado pela letra “A” em amarelo, o que sinaliza que o preço deve, em algum momento, também fazer o mesmo movimento de rompimento de fundo (e ativação do topo duplo armado).

       E é justamente o que acontece alguns dias após o sinal do OBV, confirmando que aquela lateralidade foi, na verdade, uma distribuição do mercado.

•      Agora temos um segundo advanced break down no OBV correspondente ao fundo marcado pela letra “B” em verde, ou seja, o OBV já sinaliza nova perda de fundo nos preços de PSSA3.

       Esse movimento de perda do fundo “B” pelo preço ainda não foi feito, mas vocês podem acompanhar a dinâmica em tempo real para ver se essa sinalização do OBV vai se confirmar ou vai falhar!! 

• a.2.3) Divergência de alta: 

• 

     A divergência de alta acontece quando o preço do ativo vem formando topos e fundos mais baixos, enquanto o OBV faz o movimento contrário, ou seja, vem formando topos e fundos mais altos.

Esse movimento sinaliza uma fraqueza, falta de confiabilidade no movimento do preço e PODE (pode!!!, não é certeza), em algum momento, sinalizar uma reversão de tendência iminente nos preços.

     É o que vem acontecendo, neste momento, na LREN3!

     Enquanto o preço vem ziguezagueando em um canal de baixa (topos e fundos descendentes), o OBV, durante o mesmo período, vem fazendo um zigue zague para cima (topos e fundos ascendentes).  

OBS: A divergência no OBV significa que o princípio da Teoria de Dow de que “o volume deve confirmar a tendência” NÃO está sendo respeitado e, em última análise, isso gera um sinal de alerta para o operador!

a.2.4) Divergência de baixa: 

     A divergência de baixa acontece quando o preço do ativo vem formando topos e fundos mais altos, enquanto o OBV faz o movimento contrário, ou seja, vem formando topos e fundos mais baixos.

     Esse movimento sinaliza uma fraqueza, falta de confiabilidade no movimento do preço e PODE (pode!!!, não é certeza), em algum momento, sinalizar uma reversão de tendência iminente nos preços.

     É o que aconteceu em ITUB4!!

     Perceba que até o preço marcar o topo em T1, o OBV venha acompanhando a dinâmica dos preços.

     A partir do momento que ITUB4 foi tentar renovar máxima e falhou em T2, deixando um topo no mesmo nível de T1, o OBV já estava deixando um topo menor que o anterior, levantando a primeira bandeira amarela de atenção para uma eventual fraqueza dos preços.

     Ato contínuo, os preços de fato falharam em renovar máxima e engataram pernada de baixa até a região de último fundo, em um clássico exemplo de divergência de baixa.  

     OBS: A divergência no OBV significa que o princípio da Teoria de Dow de que “o volume deve confirmar a tendência” NÃO está sendo respeitado e, em última análise, isso gera um sinal de alerta para o operador!

 a.3) Considerações Finais:

     Indicadores técnicos, como o OBV, são, quando bem utilizados, poderosas ferramentas AUXILIARES ao trader/investidor para uma melhor tomada de decisão dentro do mercado.

     No entanto, como dito acima, ele é uma ferramenta AUXILIAR na tomada de decisão!! O que quero dizer com isso?! 

    O trader/investidor profissional NUNCA, JAMAIS irá tomar uma decisão única e exclusivamente baseado no movimento do indicador técnico (seja lá qual indicador for)!!

     O trader/investidor profissional NÃO OPERA INDICADOR!!  

     O trader/investidor profissional toma a decisão baseado no MOVIMENTO DO PREÇO!!!! É o movimento do preço que deverá ser o gatilho para a tomada de decisão!! 

As divergências apresentadas pelo indicador (seja uma divergência de alta/baixa ou um advanced break up/down) devem ser utilizadas como um SINAL DE ATENÇÃO; ALERTA para:

– Se estiver de olho em abertura de posição: se preparar para no primeiro sinal técnico do preço; trigger de entrada, não hesitar na tomada de decisão (mas é fundamental esperar o trigger técnico do preço!!!!), podendo, dependendo do contexto, ser mais arrojado nessa tomada de decisão (ex: ao invés de esperar um pivot, já utilizar setups baseados em padrões de candle, etc)

-Se já estiver posicionado no ativo: não ficar na dúvida em proteger seu ganho ou até mesmo realizar eventual perda no primeiro sinal técnico no preço!!!

     Nesse sentido, para finalizar esse artigo, faço menção a excelente ensinamento do grande mestre Martin Pring sobre o tema em sua obra “Análise Técnica Explicada”:

     “Se você olhar o céu e observar nuvens escuras, seu bom senso diz que provavelmente vai chover, mas você não tem certeza, até que provavelmente chova, mas ainda não tem certeza, até que você estenda suas mãos e realmente sinta que ela está caindo. Em outras palavras, as nuvens (como as divergências) alertam para a deterioração do clima (condição técnica), mas a mudança é sinalizada apenas pela primeira gota de chuva (reversão no preço). É possível levar a analogia adiante, concluindo que, quanto mais escura as nuvens (maior o número de divergências), mais forte será a tempestade (mais acentuada a queda/alta dos preços).”