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Um livro, bons insights e o trade de divergência

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Uma coisa me incomoda DEMAIS: as pessoas utilizam indicadores sem entender a lógica por trás deles, a fórmula de cálculo, as variáveis envolvidas e possíveis distorções. Já adianto: eles te auxiliam, mas estão longe de ser o santo graal.

Farei uma introdução do indicador, explicarei a forma de cálculo e, ao final, um exemplo que vai te ajudar DEMAIS na forma de enxergar o mercado.

Gosto de indicadores e os utilizo bastante. Inclusive, gosto de modelar os meus. Sem determinados modelos, posso dizer uma coisa: fico “cego” no mercado.

Existem modelos mais diretos, que servem como gatilhos de entrada e saída, e os indiretos, que auxiliam na tomada de decisão.

Certa vez, escutei de um amigo gestor algo com o qual concordo totalmente:

“Não abro nenhuma posição APENAS por fatores de Análise Técnica, mas também não abro nenhuma posição SEM considerar fatores técnicos.”

Essa é uma particularidade de cada um, mas concordo plenamente com essa abordagem. Mais importante do que um indicador é entender o contexto geral do mercado, e é esse ponto que vamos abordar aqui.

Hoje vou falar de IFR, em uma próxima oportunidade, até para não alongar demais o texto, abordo Estocástico e OBV.

O IFR – Indicador de Força Relativa – é um dos mais famosos indicadores de Análise Técnica e foi desenvolvido por Welles Wilder.

O IFR é calculado com base nos movimentos de preço de um ativo ao longo de um período específico (geralmente 14 períodos, como dias, horas ou candles, dependendo do timeframe). Ele envolve a comparação entre os ganhos e as perdas médias, resultando no índice que varia de 0 a 100. Vamos às etapas:

1 – Ganhos e Perdas de cada período:

Para cada período, compare o preço de fechamento atual com o fechamento anterior:

Ganho: Se o preço de fechamento atual for maior que o anterior, a diferença é positiva (ganho).

Perda: Se o preço de fechamento atual for menor que o anterior, a diferença é negativa (perda, expressa em valor absoluto).

Se o preço não mudar, tanto o ganho quanto a perda são zero.

Exemplo:

  • Dia 1: Fecha em 100.
  • Dia 2: Fecha em 102 → Ganho = 2, Perda = 0.
  • Dia 3: Fecha em 101 → Ganho = 0, Perda = 1.

2 – Cálculo da Média dos Ganhos e da Média das Perdas

Pegue os últimos 14 períodos (ou o número que você definir):

  • Média dos Ganhos = Soma dos ganhos ÷ Número de períodos.
  • Média das Perdas = Soma das perdas ÷ Número de períodos.

Exemplo (simplificado com 5 dias):

  • Ganhos: 2, 0, 3, 1, 0 → Soma = 6 → Média = 6 ÷ 5 = 1,2.
  • Perdas: 0, 1, 0, 0, 2 → Soma = 3 → Média = 3 ÷ 5 = 0,6.

3 – Cálculo do RS(Força Relativa)

RS = MÉDIA DOS GANHOS/MÉDIAS DAS PERDAS

No exemplo anterior: 1,2/0,6 = 2

4 – Cálculo do IFR

IFR = 100 – (100/1+RS)

No exemplo:

IFR = 100 – (100/(1+2))

IFR = 100 – (100/3)

IFR = 100 – 33,33

IFR = 66,67

Até aqui nada de novo. Sinceramente, entender esse cálculo é condição básica, está longe de ser uma vantagem no Trading.

Operar divergências de indicadores, principalmente IFR, é um trade muito possível e famoso, mas VOCÊ PRECISA SABER O QUE ESTÁ FAZENDO E ENTENDER O MERCADO. O livro New Market Timing Techniques possui uma abordagem muito interessante, foi justamente o ensejo principal para esse texto.

O simples fato do indicador estar em zona de sobrecompra ou sobrevenda NÃO PODE ser fator de entrada na operação. Certamente muito que estão lendo já fizeram isso e perderam dinheiro. O mercado é um ambiente extremamente conectado, onde diversas variáveis estão presentes e “colocam preço” nos ativos.

MAIS IMPORTANTE DO QUE ENTENDER DETERMINADO SETUP É ENTENDER O CENÁRIO DO MERCADO E QUAIS AS PROBABILIDADES A SEU FAVOR.

Isso é o que te faz vencedor.

Vou criar um exemplo hipotético, calculando o IFR e as divergências para uma determinada ação. Vamos contextualizar que o mercado está em uma tendência de alta. Além disso, o setor em que ela está inserida apresenta forte momentum, e a ação é um dos destaques desse setor, exibindo uma performance relativa sólida.
* Você acompanha esses dados? Pois então, deveria…

Dias 1 a 6: Alta Sustentada e IFR Acima de 70

Dia 1: A ação abre a 100 e fecha a 105. O IFR (período 14) sobe de 55 para 72, entrando na zona de sobrecompra. O volume de negociação aumenta 50% em relação à média, indicando a entrada de compradores.

Dia 2: A alta continua, com o preço fechando a 110. O IFR sobe para 76. A demanda segue forte, com investidores institucionais começando a acumular posições.

Dia 3: O preço chega a 115, e o IFR sobe para 79. O mercado ignora a ideia de “sobrecompra” porque a narrativa altista está consolidada. O preço testa uma resistência em 114, mas fecha acima dela.

Dia 4: Fechamento a 118, com IFR em 81. A pressão compradora permanece, com poucos sinais de venda significativa.

Dia 5: O preço sobe para 122, e o IFR atinge 83. O volume segue elevado, mostrando que a demanda não está arrefecendo.

Dia 6: Fechamento a 125, com IFR em 84. Após seis dias consecutivos acima de 70, o indicador reflete uma força compradora dominante. O preço está claramente em tendência de alta, e o IFR sustentado em níveis elevados confirma a demanda robusta do mercado.

Nesse período, o IFR não sinaliza exaustão, mas sim um momentum consistente. Traders que tentaram vender na região de sobrecompra, esperando uma correção, foram pegos desprevenidos pela continuidade da alta.

Dias 7 a 9: Correção Normal e Divergência Baixista

Dia 7: O preço sobe para uma nova máxima em 128, mas fecha a 126 após uma leve realização de lucros. O IFR atinge seu pico em 85, mas começa a mostrar os primeiros sinais de arrefecimento, caindo para 83. Aqui surge o início de uma divergência baixista: o preço faz uma máxima mais alta (128), enquanto o IFR registra uma máxima mais baixa (85 x 83).

Dia 8: A correção se intensifica. O preço cai para 120, testando um suporte em 119 (antiga resistência rompida). O IFR recua para 76, ainda em sobrecompra, mas reforçando a divergência. Traders começam a especular que a alta perdeu força.

Dia 9: O preço fecha a 118, e o IFR cai para 70, no limite da zona de sobrecompra. A divergência baixista parece confirmada: o preço caiu de 128 para 118, enquanto o IFR recuou de 85 para 70. Alguns investidores vendem, esperando uma queda maior.

Essa correção é normal dentro de uma tendência de alta, um pullback que alivia o excesso de compras e atrai novos compradores. A divergência baixista sugere que o momentum está enfraquecendo temporariamente

Dias 10 a 12: Retomada da Alta e Anulação da Divergência

Dia 10: O preço encontra suporte em 118 e sobe para 123, com um candle de força. O IFR reage, subindo para 74. A divergência baixista começa a perder relevância, pois o preço recupera terreno rapidamente.

Dia 11: O preço fecha a 130, superando a máxima anterior de 128. O IFR sobe para 78, voltando a mostrar força. A retomada do movimento altista anula a divergência anterior, indicando que a correção foi apenas uma pausa, e não uma reversão.

Dia 12: Fechamento a 135, com IFR subindo para 82. O indicador retorna a patamares mais elevados, alinhado com a nova onda de demanda. O volume aumenta novamente, confirmando o interesse renovado dos compradores

Análise do Comportamento

Sustentação Acima de 70 (Dias 1 a 6)

O IFR acima de 70 por seis dias mostrou uma demanda forte e contínua. A ausência de quedas significativas e o volume elevado reforçaram que o mercado estava em um momento de acumulação, típico de uma tendência de alta saudável.

Divergência Baixista (Dias 7 a 9)

A correção criou uma divergência temporária, sugerindo que o ritmo da alta desacelerou. No entanto, isso foi apenas um ajuste natural, e não uma mudança de tendência. Traders que operaram a divergência, sem acompanhar o cenário GERAL do mercado, acabaram stopados.

Anulação e Retomada (Dias 10 a 12)

A rápida recuperação do preço e o retorno do IFR a níveis elevados mostraram que a demanda permaneceu intacta. A divergência foi “anulada” porque o momentum altista voltou com força, provando que o mercado ainda tinha fôlego para subir.

Cuidados ao Operar Divergências 

Confirmação é Fundamental:

Uma divergência baixista (como nos Dias 7 a 9) não garante reversão. Espere sinais concretos no preço, como rompimento de suportes ou queda no volume. Além de acompanhar o MERCADO, RISCO e SETORES. Exemplo: No Dia 9, vender com base apenas na divergência levaria a perdas quando o preço voltou a subir no Dia 10.

Tendências Fortes Anulam Divergências:

Em tendências de alta robustas, como essa, o IFR pode ignorar divergências temporárias. A força compradora pode continuar empurrando o preço, tornando a divergência apenas um “ruído”.

Gestão de Risco:

Divergências têm uma alta taxa de falha em tendências fortes.

Exemplo: Um trader que vendeu a 120 (Dia 8) com stop em 128 perdeu pouco, mas quem não usou stop foi pego na alta para 135.

Contexto do Mercado:

Avalie o ambiente geral, VOCÊ PRECISA ENTENDER O CONTEXTO DO MERCADO!

Timeframe Menor x Maior:

Em um cenário altista como esse (gráfico diário), uma divergência baixista pode ser operada em um timeframe menor (por exemplo, 1 hora) para capturar a correção (Dias 7 a 9). No gráfico de 1 hora, o IFR poderia mostrar uma queda mais pronunciada de 85 para 65 enquanto o preço corrigia de 128 para 118, oferecendo uma oportunidade de  trade rápido. Atenção: O timeframe maior (diário, neste caso) é soberano. A tendência altista do diário prevaleceu (Dias 10 a 12), anulando a divergência. Operar contra o timeframe maior exige saída rápida e aceitação de que o movimento principal pode retomar a qualquer momento.

Lições que vocês devem levar desse texto e do livro New Market Timing Techniques quando falamos de IFR.

– O IFR sustentado em sobrecompra por muito tempo (seis dias ou mais) é um sinal de demanda genuína, e não de exaustão iminente, em uma tendência de alta.

– Divergências baixistas em tendências fortes podem ser temporárias e enganosas. Elas exigem confirmação (por exemplo, quebra de suporte) e cuidados extras para serem operadas.

– A retomada do IFR a patamares elevados após uma correção reforça que o controle está com os compradores.

– O timeframe maior é soberano, tenha cuidado em trades rápidos!

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Escrito por João Ascoli

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23 Comentários

  1. João, veja BBAS3. No gráfico diário o candle 18 foi o topo do IFR, mas o ativo continuou subindo por mais 16 dias até chegar no candle 34. Enquanto o gráfico era suportado por uma LTA, o IFR desenhava uma LTB.
    E olha como foi enganoso o IFR comparando os candles 18 a 31!
    Apesar do IFR indicar perda de força, o ativo manteve-se em suporte, e depois fez uma retomada de alta.