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Cenários para os próximos anos segundo economista chefe do BTG – Profit Summit

Mansueto Almeida em palestra no Profit Summit alerta: o desafio do Brasil não é cortar gastos, mas frear sua trajetória

Em uma palestra marcada por franqueza e densidade técnica, o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, traçou um diagnóstico direto sobre os principais vetores que devem moldar a economia brasileira nos próximos anos. Ao longo da palestra, ele costurou política fiscal, juros, crescimento, mercado de trabalho, demografia e câmbio, com uma mensagem central: o Brasil está para entrar em uma nova fase estrutural, e insistir em velhas respostas pode custar caro.

Fiscal: o problema não é arrecadação, é o gasto

Mansueto rebateu a ideia recorrente de uma “bomba fiscal” em 2027, classificando o termo como exagerado. O problema, segundo ele, é mais profundo e menos episódico. O Brasil já possui uma carga tributária típica de país rico, cerca de 34% do PIB, mas mesmo assim opera no vermelho. Quinze anos atrás, essa mesma carga permitia economizar cerca de R$300 bilhões por ano para o pagamento da dívida. Hoje, gera um déficit próximo de R$50 bilhões

A consequência direta é a aceleração da dívida pública, que saiu de aproximadamente 71,7% do PIB no início de 2023 para algo entre 81% e 82% ao final do atual ciclo governamental. Para Mansueto, esse ritmo é rápido demais e ajuda a explicar por que o Brasil paga juros reais de longo prazo que não existem em nenhum outro país relevante.

Juros estruturalmente altos

O economista chamou atenção para um dado simbólico: títulos públicos brasileiros de 20 ou 30 anos oferecem juros reais ao redor de 7% ao ano, enquanto países mais endividados, como Estados Unidos e Reino Unido, pagam algo entre 1,5% e 2%. “Isso não é equilíbrio, isso não é sustentável”.

Na prática, esse patamar de juros encarece o investimento privado, já que a NTN-B serve como referência para o custo de capital das empresas. Para reverter esse quadro, Mansueto defendeu menos discursos e mais previsibilidade: um plano claro de controle do crescimento das despesas obrigatórias.

O ponto central não é um corte abrupto, mas desacelerar o crescimento dessas despesas. “O desafio não é tirar R$ 80 ou R$ 100 bilhões de um ano para o outro. É controlar a trajetória”.

Câmbio e 2026: o jogo será doméstico

Ao tratar do câmbio, o economista evitou projeções numéricas, mas deixou claro o vetor dominante. Com a desaceleração do crescimento, o déficit em conta-corrente tende a diminuir, e o diferencial de juros ainda favorece o real. No entanto, em 2026, o fator decisivo não virá do exterior, mas das sinalizações internas.

Se os candidatos à Presidência demonstrarem compromisso com uma agenda fiscal crível, o câmbio tende a se manter mais estável. Caso contrário, a desvalorização da moeda volta ao radar. “O câmbio vai reagir muito mais ao que o Brasil sinalizar do que ao que acontecer lá fora”.

Ele não entrou no espectro político mas afirmou que tem como cenário base que o próximo governante faça o dever de casa em relação ao fiscal e isso independe de partido.

Setores com resiliência mesmo em juros altos

Foi destacado explicitamente que, apesar do aperto monetário, alguns setores seguem investindo, o que não é trivial no atual ambiente de custo de capital elevado.

Podemos exemplificar os setores de Infraestrutura, como saneamento, rodovias, elétricas e concessões em geral. Esses setores continuam investindo mesmo com juros altos porque possuem receitas mais previsíveis (o que permite maior alavancagem da dívida) e estruturam dívidas esperando um cenário de queda no CDI no médio prazo.

Com investimentos saudáveis e a estrutura de dívida flutuante, têm-se um cenário bastante positivo para esses setores. Cenário esse que já vínhamos comentando com mais ênfase no Papo Fundamentalista e no Sunday Call.

Mesmo que não se concretize o melhor cenário desenhado, há uma estrutura defensiva natural desses setores. Logo eles apresentam uma assimetria de risco positiva.

O cenário Contrarian

Apesar do cenário base, foi discutido também um mundo com falta de ajuste fiscal, onde o gasto seguiria crescendo e resultaria em juros altos por mais tempo.

Nesse caso dificilmente teríamos vencedores, porém na bolsa empresas com maior poder de repasse como Bancos e também setores exportadores (não dependentes da demanda doméstica) se sairiam melhor. Varejo e Small Caps seriam os exemplos claros de setores mais penalizados.

Juros como variável-chave e implicações para a alocação

Para os próximos meses, o juro permanece como a principal variável de controle do cenário. Uma queda estrutural só tende a se materializar caso haja ganho efetivo de credibilidade fiscal. Sem isso, alívios tendem a ser pontuais e reversíveis.

No cenário base, conforme discutido anteriormente, a leitura é de que o ajuste virá mais pela desaceleração da trajetória de gastos do que por cortes abruptos, o que abre espaço para uma estratégia de alocação mais focada em setores resilientes ao atual patamar de juros.

Carteira base: setores defensivos e previsibilidade de caixa

Nesse contexto, Bancos e Utilities seguem como a fundação da carteira. São setores que combinam:

  • Maior previsibilidade de receitas
  • Capacidade de repasse ou proteção de margens
  • Melhor adaptação a ambientes de custo de capital elevado

Dentro dessa lógica, busco as melhores performances relativas e, atualmente, estou posicionado em AXIA3, EQTL3, BPAC11 e ITUB4, ativos que oferecem boa assimetria mesmo sem depender totalmente de um cenário positivo de curto prazo para juros.

Ponta tática: exposição seletiva ao trade de juros

Já na ponta mais tática, voltada ao trade puro de juros, a preferência é por empresas ligadas ao consumo doméstico, porém com estruturas de dívida mais saudáveis e fundamentos mais ajustados. A ideia é capturar o eventual fechamento da curva sem assumir riscos excessivos pelo caminho, mantendo uma postura mais moderada nessa frente.

Time Investfy

Escrito por Jair Filho

Assistente do Clube e Estudante de economia.

Comecei a investir inspirado por meu pai, visando construir e acumular patrimônio para alcançar minha liberdade financeira. Desde então mergulhei nos estudos de mercado e pretendo fazer disso a minha profissão. Mentorado do Hegler (M8).
Opero ações e opções.

Aprendendo sempre!

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