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Mercado Chinês: Oportunidades e Riscos na Alta Fiscal

Estratégia Econômica da China: Expectativas da Política Fiscal e Como Posicionar-se

Nos últimos meses, a China tem sido palco de discussões acerca de sua política fiscal, que promete impactar o mercado econômico e de ações. O relatório analisa as expectativas e movimentos do mercado, além de oferecer insights sobre possíveis posicionamentos dos investidores frente a essas políticas. A seguir, exploramos os pontos-chave dessa análise e destacamos as tabelas presentes no relatório.

Expectativa do Mercado para a Política Fiscal

O mercado especula sobre um pacote de estímulo fiscal na ordem de RMB 2 trilhões, que pode ser anunciado em breve, possivelmente na conferência da NDRC (Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma) no dia 8 de outubro. Esse pacote incluiria apoio ao financiamento do governo local, aumento nos investimentos em infraestrutura e potencial estímulo ao consumo. Embora alguns investidores estrangeiros vejam esse valor como insuficiente, há a percepção entre os investidores locais de que isso reforça o compromisso de Pequim em impulsionar a economia.

No entanto, especialistas apontam que um apoio fiscal mais substancial é necessário para enfrentar desafios como o excesso de estoque habitacional e reformas de bem-estar social. Alguns analistas sugerem que um estímulo de RMB 10 trilhões ao longo de dois anos seria ideal para estabilizar a economia até 2025-26.

Valorização do Mercado de Ações Chinês

Conforme ilustrado na Tabela 1, os principais índices do mercado de ações da China atingiram ou ultrapassaram os picos de valorização pós-Covid em 2023, exceto pelos subíndices ChiNext e o espaço da internet na China, que continuam significativamente defasados. O ChiNext e o setor de internet operam com um desconto entre 27% e 37% em comparação com os picos de 2023 e as médias de cinco anos.

Tabela 1: Valorização dos Principais Índices Chineses (forward P/E)

ÍndiceValorização AtualPico (Dez 22 – Fev 23)Desconto/Premium
MSCI China11.411.7-2.7%
Hang Seng Index10.410.5-1.1%
Hang Seng Tech21.243.5-51.4%
CSI 30013.412.38.7%
Shanghai Composite13.312.66.0%
ChiNext26.636.2-26.5%
Internet Composite Index16.324.0-32.1%
Starboard55.145.421.3%

Fonte: Datastream, BBG, Morgan Stanley Research

Análise das Últimas Altas do Mercado Chinês

Os últimos dez anos foram marcados por cinco grandes ciclos de alta nos mercados de ações chineses. A Tabela 2 destaca esses ciclos, fornecendo insights sobre a duração média das altas, retornos e reavaliações de valor dos índices.

Tabela 2: Principais Ralis do MSCI China nos Últimos Dez Anos

Data InícioData FimDuração (dias úteis)Retorno (%)Reavaliação de Valor (%)
05/07/201404/27/201525448.650.3
02/12/201601/26/2018511111.670.0
03/19/202002/17/202124086.587.1
10/31/202201/27/20236559.747.4
01/29/202405/22/20248321.623.1

Fonte: Datastream, Bloomberg, Morgan Stanley Research

Os dados mostram que, em média, um rali no MSCI China durou 231 dias, com um retorno médio de 65.6% e uma reavaliação de 55.6%. No entanto, o atual rali do mercado está abaixo da média histórica tanto em duração quanto em magnitude, embora tenha superado a recuperação de fevereiro a maio de 2024.

Como Posicionar-se

O relatório sugere que a atual alta do mercado pode ter três estágios, com diferentes oportunidades para os investidores. Abaixo, detalhamos cada um dos estágios e suas possíveis implicações para o posicionamento estratégico:

Estágio 1: Ganhos Técnicos Já Precificados

O primeiro estágio dessa alta já aconteceu e proporcionou ganhos técnicos de cerca de 15%. Isso foi impulsionado pelo custo do programa de relending em 2,25%, comparado ao rendimento de dividendos do CSI 300 de 2,6% no início do rali. Esse ganho técnico foi rapidamente precificado pelos investidores, encerrando essa primeira fase.

Estágio 2: Reavaliação do Mercado com 12% de Potencial de Alta

A segunda fase está em andamento e pode resultar em um ganho adicional de até 12%, motivado por uma reavaliação do mercado chinês. Esse estágio depende do aumento da disposição de investidores globais em dar uma maior valorização aos ativos chineses, com base na expectativa de que o país enfrente com sucesso a deflação da dívida. Uma referência para essa fase é o pico de reavaliação após a reabertura da economia pós-Covid, quando o MSCI China atingiu uma relação P/L (Preço/Lucro) de 12 vezes. Atualmente, esse índice está em 11,4 vezes, indicando uma margem para crescimento.

Outra métrica relevante é o desconto de 12% do MSCI China em relação ao MSCI Mercados Emergentes (MSCI EM). Se esse desconto convergir para níveis históricos, isso poderia desencadear uma reavaliação adicional semelhante em escala. A alta durante esse estágio pode ser impulsionada pela diversificação de alocação de ativos e a busca de benchmarks mais favoráveis.

Monitoramento: É importante ficar atento a indicadores externos, como o ritmo dos cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve dos Estados Unidos (o relatório sugere a expectativa de dois cortes de 25 pontos-base ainda neste ano), dinâmicas eleitorais nos EUA e o ambiente geopolítico global. Esses fatores podem influenciar a disposição dos investidores em realocar ativos para os mercados chineses.

Estágio 3: Crescimento nos Lucros Empresariais

Para que o rali atual avance além do segundo estágio, será necessário que os investidores vejam evidências concretas de que a China está superando a deflação da dívida, algo que o rali de fevereiro a maio de 2024 não conseguiu demonstrar. O relatório destaca uma série de fatores críticos para esse avanço:

  • Execução de Política Fiscal: O governo chinês precisa implementar um pacote fiscal robusto, com foco na expansão dos gastos, estímulo ao consumo e projetos de governos locais. A reunião do Comitê Permanente da Assembleia Popular Nacional no final de outubro é um evento-chave para observar sinais dessa execução.

  • Detalhamento do Programa de Compras de Ações pelo Banco Central: Mais clareza e comunicação regular sobre o programa de compra de ações pelo Banco Central da China serão necessárias para aumentar a confiança dos investidores.

  • Descarte do Estoque Habitacional: Indicações de vendas imobiliárias melhoradas e a implementação mais agressiva do programa de refinanciamento do governo para os estoques habitacionais serão sinais de que o setor imobiliário pode estar em recuperação.

  • Crescimento dos Lucros Corporativos: Para sustentar um crescimento de longo prazo, será necessário que os lucros das empresas se estabilizem e cresçam, com expectativas de um ponto de inflexão por volta do primeiro ou segundo trimestre de 2025.

Como Posicionar-se no Mercado: À medida que esses marcos forem alcançados, os beneficiários do rali provavelmente mudarão. As ações de maior capitalização no espaço de internet e consumo amplo parecem bem posicionadas devido às suas avaliações atrativas, grande liquidez e exposição ao cenário de reflacionamento. À medida que o investimento corporativo e o CapEx aumentam, empresas relacionadas a indústrias, materiais e gastos com TI também podem se beneficiar. Além disso, um possível aumento nos benefícios de bem-estar social pode favorecer especialmente as empresas do setor de saúde.

Riscos a Monitorar

O relatório ressalta diversos riscos que podem impactar a trajetória do mercado e afetar as estratégias de investimento:

  1. Risco de Superaquecimento do Mercado: A leitura mais recente do índice de sentimento do mercado A-share sugere que, apesar de estar dentro do intervalo normal, a rápida escalada do sentimento é motivo de preocupação. Uma possível “frenesi” no mercado de ações, combinado com restrições prolongadas de venda (como IPOs e limitações para acionistas), pode desencadear um ciclo de “boom e bust” (alta e queda brusca).

  2. Implementação das Políticas do Governo: Há um risco de que o governo chinês não consiga executar plenamente as medidas de estímulo necessárias. Há uma diferença entre o que é necessário para estimular a economia (em torno de RMB 10 trilhões, de acordo com o relatório) e o que se espera que seja entregue (RMB 2-3 trilhões por ano durante dois anos). A não concretização dessas medidas pode abalar a confiança do mercado.

  3. Fatores Externos: A incerteza geopolítica, o ritmo dos cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve dos Estados Unidos e as próximas eleições nos EUA são fatores externos que podem influenciar a estabilidade do mercado chinês e os fluxos de capital.

Portanto, os investidores devem manter-se atentos à execução das políticas fiscais, ao comportamento do mercado imobiliário, à evolução dos lucros empresariais e a potenciais riscos externos para ajustar seus posicionamentos adequadamente.

Conclusão

O mercado de ações chinês está em uma fase crítica, com expectativas de um pacote fiscal que pode influenciar seu desempenho. Enquanto alguns setores, como internet e tecnologia, permanecem com descontos significativos, outros já atingiram níveis de pico de valorização. Os investidores devem ficar atentos às políticas do governo e aos riscos externos que podem afetar o mercado.

Este artigo destacou as principais análises e tabelas presentes no relatório, oferecendo uma visão abrangente do cenário econômico chinês.

Fontes:

As fontes do relatório sobre a economia e estratégia de ações da China incluem dados e análises fornecidas por especialistas do Morgan Stanley Research. Os principais responsáveis pela preparação do relatório são:

  • Laura Wang – Estrategista de Ações
  • Robin Xing – Economista Chefe da China
  • Jenny Zheng, CFA – Economista
  • Catherine Chen – Estrategista de Ações
  • Chloe Liu – Estrategista de Ações
  • Zhipeng Cai – Economista

Além disso, os dados apresentados nas tabelas e análises do relatório foram coletados de fontes como Datastream, Bloomberg e BBG. A análise utiliza métricas como valuations forward P/E de índices como MSCI China, Hang Seng Index e CSI 300, entre outros.

O relatório também faz referências a eventos-chave do mercado e ações do governo chinês, como conferências do NDRC e políticas do Banco Central da China (PBOC), contextualizando a situação econômica do país.

Todos os dados e avaliações foram compilados e apresentados pela equipe do Morgan Stanley, utilizando informações públicas e privadas, com responsabilidade pelas análises e opiniões expressas.

O relatório foi compartilhado pelo sócio Daniel Lindoso.

Confira na íntegra: 

 

 

Time Investfy

Escrito por Murilo

Amigo do clube, cuido da experiência dos membros Investfy.
Fã do mercado financeiro.

Investfy crew.

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