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O Ciclo da Celulose e o Desafio das Empresas Brasileiras: Suzano, Klabin e Irani

1. O Mercado de Celulose: Ciclo, Estrutura e Problemas Atuais

A celulose é uma commodity com dinâmica muito mais lenta do que petróleo, minério ou alumínio. Isso ocorre porque:

  • O preço global é formado majoritariamente em contratos de balcão, com pouca transparência.

  • A oferta cresce devagar, é necessário plantar, esperar o ciclo florestal, maturar projetos.

  • A demanda é altamente concentrada na China, especialmente para fibras curtas.

Excesso de oferta

Nos últimos anos, vários projetos iniciados no passado entraram em fase de produção. Isso empurra o preço para baixo:

  • A própria Suzano adicionou capacidade.

  • Novas plantas no Brasil e na China continuam entrando no mercado.

Demanda fraca

A China, principal consumidora, mostra:

  • consumo interno enfraquecido;

  • industrialização mais verticalizada, reduzindo necessidade de importação;

  • baixo apetite para novos ciclos de compra.

Resultado: não há expectativa de retomada da demanda no curto prazo, o que mantém o preço comprimido.

Por que é difícil acompanhar?

O mercado carece de transparência:

  • Não há um “benchmark” diário como no minério ou petróleo.

  • Mesmo ferramentas profissionais têm pouca visibilidade sobre a curva real de preços.

  • Analistas do setor também têm dificuldade para obter dados atualizados.

Esse ambiente reforça que investir em celulose exige foco na empresa, e não no preço da commodity no curto prazo.

2. As Empresas do Setor

Suzano (SUZB3)

Perfil: maior produtora de celulose de fibra curta do mundo e player dominante no Brasil.

Pontos-chave da análise:

  • É sólida, eficiente e muito bem gerida, mas vive sem gatilhos de curto prazo.

  • O CAPEX permanece elevado por muitos anos, mesmo na baixa do ciclo.

  • A companhia tem histórico de querer crescer via projetos grandes ou aquisições, o que pode gerar receios em momentos de alavancagem mais alta.

  • O fluxo de caixa é forte, mas a valorização depende essencialmente da commodity.

  • Para investidores, é um case de longo prazo, não de trades táticos.

  • Entrar por câmbio (dólar) é perigoso: se o papel sobe pelos motivos errados, o investidor perde referência de tese.

Conclusão para Suzano:
Boa empresa. Sem gatilho. Com forte geração de caixa. Mas com retorno concentrado em janelas de 5 a 10 anos.


Klabin (KLBN)

Perfil: diversificada — celulose curta, longa, fluff, papéis, embalagens.

Diferenciais destacados:

  • Modelo de negócios menos dependente exclusivamente da celulose.

  • Forte integração vertical e portfólio mais amplo, reduzindo volatilidade.

  • Mercado mais global, não tão restrito ao consumo chinês.

  • CAPEX também elevado, mas com projetos que tendem a melhorar margens no longo prazo.

Conclusão para Klabin:
Resiliente, diversificada e com boa vantagem competitiva por atuar também em embalagens. O longo prazo tende a ser mais estável que o da Suzano.


Irani (RANI)

Perfil: pequena, integrada e com foco quase total no mercado brasileiro.

Pontos-chave:

  • Produz celulose principalmente para consumo próprio e embalagens.

  • Exposição muito maior ao ciclo doméstico, indústria, alimentos, varejo.

  • Poder de barganha baixo: com apenas ~5% do mercado, ela não dita preços.

  • Sofre quando há queda no consumo, aumento de juros ou choques locais (ex.: aparas subindo após enchentes no RS).

  • Em compensação, paga proventos consistentes e tem mecanismos de remuneração atrelados a alavancagem.

  • É vista como potencial alvo de aquisição.

Conclusão para Irani:
Menor risco operacional no sentido de volatilidade da celulose, maior dependência do ciclo interno. Boa para dividendos e eventuais eventos de aquisição.

3. Perspectivas de Investimento no Setor

O ciclo está no fundo?

A celulose caiu por muitos anos. Historicamente, isso aumenta a probabilidade estatística de início de um novo ciclo no futuro, mas não há sinais de reversão de curto prazo.

O que seria necessário para o preço subir?

  • Aumento real da demanda chinesa (sem previsão).

  • Redução coordenada da oferta, algo pouco provável, pois ninguém quer perder market share.

  • Algum evento estrutural que reduza produção global.

  • Reprecificação global de commodities exportadoras.

Nada disso está no radar imediato.

Para quem o setor faz sentido?

  • Investidores com horizonte de 5 a 10 anos.

  • Quem entende que vai ver o papel “morto” por longos períodos.

  • Quem monta posição progressiva, sem concentrar demais o portfólio.

Celulose não é para quem busca desempenho no curto prazo.

4. Alertas Importantes ao Investidor

1. Não entrar pelo motivo errado

Comprar Suzano ou Klabin por causa do dólar é perigoso.
Se o câmbio anda e a celulose cai, o investidor acha que acertou a tese, e dobra a mão incorretamente.

2. Controle de tamanho de posição

Empresas cíclicas podem ficar paradas por muitos anos.
Exposição excessiva gera desgaste emocional e custo de oportunidade.
Limite sugerido: até 10% da carteira de ações.

3. Entender que o retorno não é linear

A curva é: um investimento longo e que pode não trazer retorno rápido, para quem tem pressa e dependência.

Quem não tolera isso, não deve entrar.

4. Evitar concentrar cases muito parecidos

Ter Suzano + Klabin + Irani como núcleo da carteira aumenta risco de correlação negativa com o restante do mercado.

5. Não esperar gatilhos de curto prazo

A tese exige paciência.
Quem busca “trade” deve olhar outra classe de ativos.

Conclusão Geral

O setor de celulose vive um ambiente estruturalmente pressionado:

  • excesso de oferta,

  • demanda chinesa fraca,

  • pouca visibilidade de preços,

  • baixo poder de repasse,

  • CAPEX alto e permanente.

Mesmo assim, Suzano, Klabin e Irani são empresas sólidas, cada uma com perfis diferentes e papéis específicos dentro da carteira do investidor.

Teses muitas vezes são longevas, cíclicas e exige estômago.
Para quem compreende o ciclo e respeita tamanho de posição, pode ser uma oportunidade de “carregar no fundo”, sabendo que a remuneração pode levar anos, mas tende a ser expressiva quando o ciclo vira.

Se você está olhando Suzano, Klabin ou Irani esperando ganho rápido, é melhor repensar agora.
O setor de celulose não entrega movimento de curto prazo, não importa o quão barato pareça no gráfico.

Se a intenção é curto prazo, volatilidade rápida ou trade técnico com gatilho definido, esse não é o lugar.

Não trate um setor lento como se fosse um papel de beta alto. Celulose paga quem espera, não quem pressiona por desempenho.

Time Investfy

Escrito por Investfy

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