O mercado está dividido, mas uma coisa é certa: o robotaxi virou o novo coração da narrativa da Tesla. Elon Musk prometeu, mais uma vez, uma revolução. A frota autônoma, que por anos foi protótipo e PowerPoint, finalmente ganhou as ruas de Austin em um lançamento limitado — e com ela, reacendeu o otimismo que parecia ter esfriado.
A reação foi imediata: as ações subiram 8,2% num único pregão e analistas como Mickey Legg elevaram o preço-alvo de US$ 350 para US$ 475. O mercado voltou a precificar a Tesla como empresa de tecnologia e não apenas como montadora.
Mas é aí que mora o risco.
Valuation pendurado em uma hipótese
Hoje, segundo estimativas de bancos como RBC e Morgan Stanley, entre 40% e 60% do valor de mercado da Tesla está ancorado na expectativa de sucesso com os robotaxis. Isso significa que uma boa parte do seu valor é intangível — e extremamente sensível à percepção.
Se os robotaxis falharem — por razões técnicas, regulatórias ou simplesmente falta de adesão popular — a Tesla pode ver seu valuation ser reprecificado. Não seria uma correção qualquer: seria o fim de uma era narrativa.
O mercado já está se posicionando
Nem todos embarcaram no otimismo. O UBS manteve recomendação de venda com preço-alvo de US$ 215. O Guggenheim disse que o lançamento em Austin é só um “baby step”. E os dados de vendas não ajudam: entregas globais ainda estão 12% abaixo do ano anterior, e as vendas caem nos EUA, Europa e China.
Mesmo assim, a narrativa da autonomia ganha força. Por quê? Porque o mercado não está comprando carros, está comprando a promessa de um novo paradigma — um no qual a Tesla não concorre com GM ou BYD, mas com Google, Nvidia e Amazon.
E se não funcionar?
A Tesla pode voltar a ser apenas uma montadora. Nesse cenário, analistas estimam que a ação poderia cair para a faixa de US$ 120 a US$ 180. Um colapso de confiança em Musk tornaria o acesso a capital mais caro, e os fundos institucionais migrariam para nomes mais confiáveis no setor de AI ou mobilidade.
Mas a Tesla está morta sem robotaxis?
Longe disso!
Mesmo sem autonomia total, a Tesla ainda tem ativos poderosos:
O Model 2, com preço mais acessível, pode dominar mercados emergentes.
As gigafábricas são benchmark de eficiência industrial.
A verticalização da produção e o controle de software ainda são vantagem competitiva.
A divisão de energia, com baterias e Powerwalls, segue crescendo.
O Dojo, supercomputador próprio para AI, pode se tornar um novo vetor de crescimento.
Em outras palavras: se Musk for forçado a redirecionar a narrativa, ele tem para onde correr.
Conclusão: a Tesla está prestes a provar se é mito ou realidade.
O robotaxi é, ao mesmo tempo, a maior oportunidade e o maior risco da Tesla. O mercado deu um voto de confiança — mas não é incondicional. A próxima rodada de entregas, a viabilidade técnica do serviço em escala e o aval regulatório serão decisivos.
Se tudo funcionar, Musk terá entregado a promessa que alimenta o valuation da Tesla desde 2016. Se não, a empresa enfrentará um ajuste brutal — não só de preço, mas de identidade.
Agosto será o mês da verdade. E o mercado já começou a marcar posição.